"história de boca"
Deixo-vos uma "história de boca" como chama a minha princesa às histórias que eu lhe conto...
Num dia de sol quente num verão qualquer e sem que antes tivesse sido anunciada, nasceu uma flor.
Com pétalas azuis e um caule azul intenso. Dentro de si esta flor tinha um vermelho quente, como o sangue que nos faz mover. Abrindo devagarinho os olhos, viu um céu claro, sem nuvens e uma luz tão intensa que os fechou de novo, rapidamente.
Decidiu que poderia ficar assim, de olhos fechados…deixou-se ficar! Foi deixando o seu pequeno corpo sentir o vento morno de sul. O calor do sol que estava agora mais alto, pois sentia a luminosidade através das finas pálpebras.
Começou a ver as suas amigas flores, que também lentamente crescia e talvez também já tivessem os olhos abertos. Ficou curiosa por saber os seus nomes e até já se conseguia ver a brincar com o embalar do vento.
Cheia de coragem, abriu os olhos…. Sentiu uma falta de ar abrupta e a paragem foi tão bruta, tão intensa. Não estava lá mais nada! Só céu e duas pedras enormes e cinzenta…Começou a chorar!
Deixou-se ficar ali com as lágrimas a correr devagar e sem respirar muito alto…sentiu vontade de fechar os olhos de uma só vez. Não tenha nome para o que estava a sentir e mesmo assim era tão forte. Por momentos até parecia que o peito lhe doía.
Já o sol ia baixo e uma sombra inesperada pairou sobre si. Olhou e não viu nada, até que decidiu olhar para o céu agora mais escuro e viu uma águia de asas largas e extensas. A aguia sentiu o choro, baixou e perguntou:
- O que tens? Porque choras?
- Estou sozinha aqui neste sitio alto...
- Sim, estás no topo da montanha.
- Estou só. Porquê eu? O que é que eu fiz para ficar assim abandonada?
(a águia sorrindo) – Tu estás no topo da montanha pois é uma flor silvestre. Forte e corajosa de ter nascido onde mais nenhuma planta escolheu nascer. És única e fazes esta paisagem ficar assim…bela!
- Estás a dizer isso para ser simpática.
- Estas palavras saem do meu coração. Sabes que eu conheço estas montanhas como ninguém e este cume é o mais belo pois tem a força das pedras e a tua delicadeza.
A flor parou de chorar!