Quero ser um canguru!

A minha filha ontem saiu-se com esta: Mãe, porque não podemos ser como os cangurus?


Ah! …Respondi eu. Não entendendo a que parte do animal ou atributo se referia. Ela com uma voz desconfiada disse: Entendes, não entendes? E eu assumi que de facto não era uma informação muito clara para mim.


- Como assim, filha? Cangurus como? Achei melhor perguntar.


- Tu tinhas uma bolsa para eu poder andar lá dentro, quentinha e sempre contigo.


- Ah! Uma bolsa…e como é que tu ias andar sempre comigo. E a escola, e os teus amigos?


- Havia dias em que eu não ia contigo e ia ter com eles, quando me apetecesse. Não era obrigada, entendes?


Claro que entendo filha! E seria mesmo muito bom que cada indivíduo pudesse ter a noção clara que tem escolhas, que de facto existem dias que não apetece (a palavra apetite é entendida por mim como escolha, decisão) e que muito provavelmente o que vamos fazer nesse dia, se não nulo, ou de qualidade satisfatória.


Alguns de vocês estão a dizer, pois eu que dissesse ao meu patrão que não me apetecia trabalhar. Eu que dissesse ao meu pai que não me apetece ir à escola, ou ao meu marido que não me apeteceu fazer o jantar. Evidente que cada uma destas situações, ditas e expostas desta forma, tinham grandes probabilidades de ser motivo para uma discussão séria e atitudes mais dramáticas.


Um dia, na fase em que eu fazia recrutamento e selecção, pedi a uma colega que me fizesse duas das entrevistas marcadas para mim. Expliquei que estava preocupada com um assunto pessoal e que não me sentia confortável para ouvir outra pessoa. Ela, amavelmente, fez as entrevistas e muito bem, por sinal. No dia em essa colega, sentiu a mesma sensação pediu-me para fazer o mesmo por ela. Qual o resultado desta situação? Entrevistas realizadas profissionalmente, uma boa e eficaz avaliação dos candidatos, tempo ganho em novas entrevistas, porque tínhamos dúvidas, afinal não ouvimos como seria necessário ter ouvido!


Acordar de manhã e ligar ao chefe a dizer que não se vai trabalhar, porque decidimos que não estamos rentáveis, pode não ser uma boa opção, e claro que depende do chefe! No entanto, ir trabalhar com a noção que os nossos recursos para realizar a tal tarefa se forma extraordinária poderão não estar disponíveis naquele momento poderá ser uma atitude sábia. E depois é só escolher: Ficar igual, alterar o estado, fazer outras tarefas, alterar apenas da parte da tarde…bem é um sem fim de possibilidades.


Desta forma, “obrigado a fazer algo” ninguém é, apenas não está disponível para assumir as consequências de fazer algo. Assim a minha menina não é obrigada a ir à escola, e no entanto vai, sem birra, sem queixume, porque em algum momento ela escolhe, todos os dias pela amanhã que mesmo que por momentos não lhe apeteça ir, não está disponível a assumir as consequências ou mesmo que, claro que existem coisas que se podem fazer melhores que ir à escola, e na escola também existem coisas boas.

publicado por Momento de Mudança às 15:39 | comentar | favorito